Como acabar com um bordel

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Bordel, local que permite fantasiar complexos sentimentos que conjugam o proibido com incríveis sensações de prazer e de luxúria. A seguir, mostramos como a publicidade amadora ajuda a fechar um bordel. 

Em São Paulo, como em qualquer outra cidade do Brasil e do mundo, há as chamadas casas de tolerância (ou saliência, como moderninhos costumam chamar nos dias atuais). Elas são conhecidas do público, não escondem as suas atividades e contam, muitas vezes, com personalidades locais como frequentadoras. E, eventualmente, até como protetoras. 

Hipocritamente, ainda que essas atividades sejam consideradas ilegais, as casas costumam ter um alvará de bar, para shows, casa de massagens ou alguma outra identificação compatível com o que a legislação permite. Mas, como todo tipo de negócio, dependem de uma boa divulgação e de um adequado padrão de atendimento ao cliente. 

A palavra “adequado” vem do fato de haver diferentes graus de exigência do cliente, dependendo de quem ele é, do local do bordel ou mesmo do tipo de prestação de serviço que será realizado. Certamente, os custos praticados pela casa acabam direcionando isso que chamamos de padrão de atendimento, o que nos remete a um conceito complexo. 


Logo, haverá o bordel com a sua divulgação funcionando boca-a-boca. Há o outro que distribui papeletas nas portas e entradas de locais de aglomeração do público-alvo. E há aqueles que se lançam a fazerem promoções, com mais arrojo, envolvendo a comunicação em anúncios e mídia. Para não correr o risco de ser processado, deixarei de citar nomes, mas há vários bons anúncios de várias boas casas do ramo, inclusive em revistas de grande circulação. 

Então, eis que chega a temporada de Fórmula 1, no Brasil. Em São Paulo, as mais luxuosas casas de saliência investem alto. Ao longo dos anos, o evento trouxe movimento e lucros. Ambientes são redecorados e arregimenta-se novas atendentes de primeiro nível, bi ou trilingüe, compatíveis com as exigências de clientes acostumados a um padrão internacional de serviços. Mas é preciso anunciar, afinal “propaganda é a alma do negócio”. 

Infelizmente, aparece a tendência infernal que infesta o mercado brasileiro acostumado ao “jeitinho que dá certo”. Ela é a decisão do empresário em fazer a campanha com gente da casa para economizar. Para que agência profissional? Esquece que o preço final pago é outro, muitas vezes tão devastador que acaba com o negócio. Essa realidade nem sempre é admitida, valendo até mesmo para gerentes que ostentam expressivo diploma de MBA na parede. 

Nesse filme de final quase conhecido, três maravilhosas e belas casas para o lazer e fantasias deram a um funcionário a liberdade de criação do anúncio para out-door. Produzidas,
as peças  foram afixadas em trinta pontos estratégicos da cidade. O apelo era tão forte e erótico, as fotos tão provocadoras, que um jornal foi chamado para documentar essa "extravagância". 

A questão não estava em se fazer esse anúncio em plena capital paulistana, mas sim "aquele tipo" de anúncio. Por sinal, uma dessas casas tem divulgado seus serviços em outdoor e nunca viveu esse tipo de problema. Pois a prefeitura entrou em ação, retirou as peças publicitárias e foi vistoriar aqueles ambientes de lazer (para não me processarem, não os estou chamando de bordel).

Encontraram quesitos de segurança e de fiscalização numa alegada situação irregular. Portas e entradas foram lacradas sem discussão. Resumo dessa história: todo o investimento do proprietário ficou perdido, os negócios foram fechados e tudo isso começou onde?

Na burra e infeliz decisão de tratar assuntos de publicidade com visão amadora. Eu não conheço o funcionário que fez a campanha e, nem mesmo, se ele tem alguma formação na área. No meu conceito, ação “in house” e com bravura amadora tende a não funcionar. 

Curiosamente, as irregularidades constatadas na vistoria, e que deveriam ter sido o objeto principal de fechamento das casas, só apareceram com a polêmica de anúncios considerados ofensivos à moral pública. A qual nunca se importou com a existência de casas de saliência em endereço conhecido. 

Portanto, o fato de uma casa de lazer ser afamado bordel não tem problema. E ter a documentação com problemas ou apresentar irregularidades, isso acaba sendo relevado. Se um bordel quiser anunciar promoções ou variedades no atendimento ao cliente pode divulgar, desde que mantenha a classe e a elegância nas peças.

Não se pode ofender a moral pública de maneira explícita. Mas todo cuidado é pouco quand se trata de publicidade amadora no Brasil. Ela, e muito especialmente ela, conseguirá fechar até bordel famoso em pouco tempo.