Nutrição e Marketing são inimigos?

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Como você reagiria se fosse decretada uma forma de limitar a publicidade de alimentos?

Em recente e inédita deliberação internacional, com representantes de mais de 120 países reunidos na Assembléia Mundial de Saúde, foi estabelecido um plano de combate à obesidade. O documento, sem peso de lei, é uma abrangente tentativa de regular os hábitos mundiais no que diz respeito a comportamentos alimentares.

A iniciativa é plenamente meritória, ainda que paradoxal pois, para uma grande parcela da população mundial, o problema real é de subnutrição. Ou seja, ao tempo em que reclamamos no Brasil de uma pérfida distribuição de renda, no quesito alimentação há um terrível e indesejável problema bem similar de desigualdade, afetando o planeta todo.

Mas vamos nos concentrar, por momentos, na origem da deliberação citada. Para tanto, precisaremos analisar os diagnósticos para o problema da obesidade que, além de atual, preocupa muito por ser concentrado no crescimento do peso médio da população infantil mundial. Ou seja, como tratar os fatores que influenciam "nesse processo de engorda"?

Por um lado, o trabalho dos assembleístas já começou com uma concessão, sugerindo que os interesses comerciais dos países não sejam atingidos diretamente pela promoção de uma dieta saudável. Ainda que a premissa tenha sido aberta pela reclamação dos produtores de açúcar, a porta foi escancarada para outras reivindicações similares. Vamos aguardar para ver!

Em resumo e outra vez, é plenamente adequada a iniciativa de se atacar um problema de saúde que se torna cada vez mais grave. O mais chocante foi verificar que, entre as principais medidas sugeridas como solução, está o controle nas ações de marketing e comunicação sobre os produtos alimentares em geral. Serão a Nutrição e o Marketing inimigos?

Anos atrás, os fabricantes de cigarros se viram proibidos de veicular campanhas publicitárias de seus produtos, o que hoje se estende a muitos países. Mais recentemente, aqui no Brasil, foram definidas normas reguladoras e restritivas para campanhas de bebidas alcoólicas. Aparentemente, com esta nova decisão em escala mundial, tudo leva a crer que logo se estabelecerá mais um limite na comunicação, agora envolvendo alimentos.

E fica então a pergunta: será que é o Marketing o vilão dessa história? Ou é a indústria que não tem conseguido evoluir na tecnologia de alimentos, na busca do que seria a "nutrição saudável"? Ou será que se pode listar outros vilões nessa história de "engorda internacional"?

Quem já viveu sob a censura, como nós, sabe bem o que é transferir a um grupo de elite o poder de garantir o que pode e o que não pode ser dito, escrito, gravado, projetado e vai daí em frente. Isso valia para fins político-ideológicos, e não se deseja a volta desse cenário.

Mas a ser verdade que os alimentos tornaram-se a bola da vez e, considerando que o Brasil é signatário do acordo internacional, ou os profissionais da área de comunicação se unem para prevenir-se a respeito ou teremos um novo e forte limitador nas campanhas publicitárias futuras. Aí talvez seja tarde para se depender só da ordem vigente e de um acordo do Conar.

Sendo o Brasil um país onde a burocracia sempre está pronta para colocar o time em campo, esse será um jogo muito duro. Até porque as áreas de vigilância sanitária e de saúde pública, para quem também os assembleístas criaram propostas específicas, atualmente estão vivendo problemas crônicos muito mais profundos. De todos os tipos e formas indesejáveis!

Como diz o ditado, quem avisa amigo é...