Reklame og Plakat

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Hoje em dia, sempre que alguém quer fazer uma provocação na área de publicidade, tem como um ótimo caminho usar a expressão “reclame”. Bem, às vezes isso ocorre é por ato falho mesmo. E então, dá-lhe olhares tortos, faiscantes, trazendo a censura aos limites extremos. Tem outra forma de atrair esses mesmos olhares, que é chamar-se de placas os badalados out-doors. 

Pois bem, cumprindo uma agenda recente na Escandinávia, pessoal e profissional, deparei-me na Noruega com o portfólio de uma agência de comunicação, em que ela apresentava no nome a sua pretendida missão: Reklame og Plakat. Para ser franco, não fiquei surpreso com isso mas decidi trazer para este espaço a curiosidade do fato. 

Talvez, alguém desavisado poderia supor ser o publicitário local um cidadão que assistiu certo programa dominical brasileiro e se inspirou nos “reclames do plim-plim”. Ou seria um brasileiro que resolveu matar as saudades da expressão e aproveitou a coincidência do idioma? O certo é que, no linguajar norueguês, não existe lugar para brincadeiras semânticas. Ali, a conhecida palavra “advertisement” é traduzida por “reklame”, assim mesmo com “k”. E a placa de informação publicitária é “plakat”. 

Viajando pelo país dos fjords, que tem um dos mais altos padrões de vida do mundo, depara-se com outra preciosidade (que também se encontra nos demais países escandinavos). Há uma sensível ausência de outdoors, de placas ou da comunicação visual ostensiva de marcas. Por exemplo, no letreiro das suas lojas, a marca McDonalds aparece sem a cor vermelha e é bem diminuta. Criou-se, socialmente, um padrão para não haver poluição visual nas ruas. 

Andando em ruas ou avenidas, as “placas e reclames” servem à informação das pessoas e não concorrem entre si para chamarem a atenção por cores, brilhos, tamanhos, apelos ou outra expressão que se possa encontrar para isso. Se bem que estamos indo buscar a inspiração deste artigo num fato acontecido na Noruega, o mesmo acontece em outros países europeus mais conhecidos. 

Em Milão, no famoso quadrilátero da moda, tem-se um dos locais mais caros do mundo. Lá, as grandes marcas não têm enormes letreiros luminosos ou cartazes sobre suas portas. Apenas pequenas plaquetas indicando o nome da loja, sem plumas e paetês. Uma frente discreta para um interior glamuroso. 

Será que a educação, os valores e essas tendências européias que se percebe hoje em dia, em grandes capitais, irão pegar neste nosso país tropical? Ou vai valer a escola capitalista americana, que tem na Big Apple o seu grande exemplo de como bem usar o espaço público para incentivar o consumismo? 

Parece contraditório um profissional de marketing e comunicação levantar essa polêmica. Mas, num mundo em constante mudança a cobrar cidadania, buscando respeito a espaços, pessoas e privacidade, até onde a publicidade terá a liberdade de encontrar como mídia as paredes de prédios, as beiradas de pontes e viadutos, o alto das construções, a porta dos banheiros? 

Enfim, até onde a futura ação publicitária ainda irá fazer das ruas um roteiro livre e congestionado de “reklames og plakat”?