Um dilúvio, um vendaval

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Dia destes, num encontro social que reunia pequenos empresários de vários tipos de formação, as conversas não podiam fugir dessa triste realidade política brasileira. O curioso foi que alguns deles passaram a usar expressões do tipo:"mas também, o Governo pagando 20% de comissão para a agência, aonde vamos parar?". Complementando, havia "pérolas" tais como "é dessa grana que saía o mensalão" ou "marketing é isso aí, enganação e enrolação". 

Ao tentar explicar como funcionam efetivamente as relações contratuais entre os anunciantes e as suas agências, os olhares eram incrédulos, carregando preconceitos e dúvidas. Afinal, eu era um profissional de um meio que, na opinião da maioria de pessoas, caracteriza-se por ser muito corporativista. Um tipo de gente que pratica a meia-verdade, se necessário for. 

Quando eu assumi a presidência da Associação Brasileira de Marketing, no início de 1997, uma de minhas metas era a de buscar reforçar a imagem do profissional de marketing como sendo alguém dedicado ao resultado dos negócios de seu cliente ou empregador. Mantendo a ética e a honestidade como princípios inalienáveis. 

Passo seguinte, mais que inserir esse entendimento explícito na missão da associação, o próprio nome passou a incluir a expressão Negócios. Hoje, a ABMN - Associação Brasileira de Marketing & Negócios é uma referência nacional sobre o assunto. Gestão após gestão, há um vivo esforço para que a atividade seja valorizada pela sua alta contribuição ao desenvolvimento do país.

Na trajetória, foi criado e divulgado o Código de Ética, junto com a ESPM - Escola Superior de Propaganda e Marketing. Infelizmente, o comportamento dos homens pobres de espírito nem sempre é controlado. A notória competência que têm para a construção de pontes efetivas, que podem levar a sociedade ao bom destino, acaba sendo desviada para atender a sórdida ambição pelo dinheiro e o poder desmedido.

A par do castigo merecido que esses tipos venham a sofrer, sob o julgamento das leis e dos eleitores, os estragos acabam ficando pelo caminho. Será necessário um grande trabalho de todos os profissionais de marketing e de comunicação para reajustar a imagem dessas atividades tão importantes.

Teremos que despoluir da sujeira, arrumar o que ficou desgastado, explicar o que ficou mal-entendido, afastar os maus elementos, nunca glorificar o que não for glorioso, enfim, fazer a sociedade acreditar que empulhação e engodo não são a essência do nosso trabalho. 

Em nenhuma hipótese, mas nenhuma mesmo, deveremos usar frases como "alguém também já fez isso ou aquilo", "no passado essa coisa também acontecia", "é coisa que encontramos em qualquer profissão", ou outras mitificações que tais. Comparações só são adequadas quando o padrão é positivo, legal, ético e construtivo. 

Vamos assumir que nestes anos mais recentes, o marketing e a comunicação foram usados imprópria e ilegalmente, para fins indevidos, mostrando uma vulnerabilidade. Agora que ela foi identificada, e tem a demanda social para ser corrigida, vamos retomar seriamente o caminho de construção de um país digno, para o nosso orgulho e até dos brasileiros que ainda nem nasceram.